Olá, Lucas Lago aqui. Abrindo a edição com uma pequena errata da edição #21: eu disse que Guilherme Derrite era Deputado Estadual, quando na realidade é Deputado Federal.
Nessa edição contamos com uma entrevista do meu amigo Lucas Gelape, politólogo e professor no Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais - ele detalhou pra mim um relatório feito por um Think Tank britânico sobre pesquisas de opinião.
Também conversamos sobre uma pesquisa que fala sobre o que acontece quando partidos de centro abraçam políticas extremas.
Vou iniciar nesta edição uma seção específica para falar da eleição aqui no Brasil. E na seção TRILILI notas sobre Honduras, Guiné Bissau, ONU e JBS.
Quem pesquisa os pesquisadores
Toda semana uma nova pesquisa de opinião domina o noticiário: "qual a maior preocupação do brasileiro", "qual a opinião do brasileiro sobre a operação nas favelas do moinho", "o que o brasileiro está planejando pro Natal". Mas a gente para pouco pra pensar em como elas são feitas e como o formato delas pode impactar os resultados.
A ideia aqui não é entrar numa nóia de que as pesquisas são fabricadas, forjadas, manipuladas, etc. Máximo respeito pra pessoa que entra numa ideia dessas de tentar entender uma população inteira perguntando pra uma dúzia de pessoas na rua.
Vi recentemente o trabalho do Think Tank britânico Labour Together (filiado ao partido trabalhista de lá) onde eles discutem se o formato das pesquisas de opinião realizadas na Inglaterra podem ser melhorados.
Como esse é um assunto que eu entendo muito pouco, mas que o meu amigo Lucas Gelape entende muito, pedi pra ele me explicar e gravei a conversa pra vocês leitores e leitoras.
No vídeo, o Gelape explica os detalhes, mas os principais achados que eles apontam são resumidamente os seguintes:
- As pesquisas são muito guiadas: a lista de respostas que os pesquisadores entregam influenciam os resultados.
- As pesquisas são sensíveis demais a mudanças nas palavras: mudanças nas palavras tem um impacto desproporcional nos resultados, coisas como alterar a pergunta de "qual o assunto mais importante pro país?" para "qual o assunto mais importante no seu dia a dia?" alteram totalmente os resultados.


Os outros dois pontos que foram levantados eram que as pesquisas são "carentes em hierarquização dos elementos" e "com foco insuficiente no que não é relevante", onde os pesquisadores testam se a ideia de "escolher o melhor" é uma boa prática e se perguntar o que é o menos importante tem efeito na pesquisa.
Uma coisa apontada pelo Lucas Gelape é que essas pesquisas são boas em encontrar o assunto mais 'saliente' e eu acho que esse é o tipo de característica muito afetada pelo ambiente informacional.
Fascismo light vs. Fascismo hardcore
O outro assunto que conversei com o Lucas Gelape na entrevista foi uma nota de pesquisa da Universidade de Cambridge com o título "Does accommodation work? Mainstream party strategies and the success of radical right parties" (Acomodação funciona? Estratégias de partidos bem estabelecidos e sucessos de partidos radicais de direita, em tradução livre).
O objetivo dessa pesquisa era entender o efeito da adoção de posições radicais por partidos mainstream sobre o sucesso de partidos radicais.
O artigo usa o conceito de mainstream para falar de partidos grandes e estabelecidos, que acabam tendendo para o centro. Por exemplo, o partido conservador inglês e o partido democrata cristão alemão estão nesse grupo.
O principal achado da pesquisa é o fato de que não encontraram evidências que a estratégia usada por muitos partidos de centro direita de imitar pautas dos partidos mais extremados é capaz de "roubar" votos dos partidos radicais. Inclusive, encontraram evidências do contrário.
Ou seja, dada as opções de um fascismo light e o fascismo original, o eleitor vai escolher o produto original. Como o radical de direita francês Jean-Marie Le Pen dizia: "No geral, as pessoas preferem os originais às cópias".
Eleições brasileiras de 2026
Com o anúncio do nome de Aldo Rebelo como candidato a presidência do Brasil, acredito que chegou o momento de termos uma seção dedicada às eleições do nosso país em 2026.
Mais importante que o Aldo Rebelo, Flávio Bolsonaro e Lula colocaram seus nomes na disputa. O nome do Flávio dá a impressão de ser mais incerto, ainda que, entre os 4 filhos numerados do Jair, seja o único com viabilidade.
Começando pelas principais datas do ano que vem para os candidatos:
- Desincompatibilização | As datas são diferentes para diferentes cargos, mas acontecerão 3 ou 6 meses antes da eleição. Então, no começo de abril e de julho veremos algumas movimentações em cargos públicos.
- Janela partidária | O
transfer-ban da Fifaintervalo no qual os deputados podem trocar de partido sem tomar punição do TSE vai ser entre março e abril de 2026. Importante ficar atento às movimentações envolvendo o mais novo partido brasileiro o "Missão". - Domicílio de candidatos | Essa data aqui gerou alguma dor de cabeça para o candidato Sérgio Moro em 2022. Então vale ficar de olho em outros candidatos que vão tentar candidaturas por estados que não tem residência.
- Prazo para as candidaturas | O prazo final, final mesmo, para as candidaturas é dia 15.ago, pois a campanha começa no dia seguinte.
Testes das urnas
Semana passada, no dia 05.dez, foram concluídos os planos de testes do Teste Público da Urna (TPU), uma das fases mais importantes da etapa técnica do processo eleitoral brasileiro, já que, junto com a "votação paralela", são as cerimônias do TSE que reduzem de forma drástica as chances de um ataque nas eleições brasileiras via urnas eletrônicas.
Para esse ano foram aprovados 37 planos de teste. Que foram executados entre os dias 01 e 05.dez. Aguardando o relatório que deve ser publicado no dia 18.dez para descobrir como foi!

Hugo, Glauber e anistia
Estou finalizando a escrita desta edição enquanto a Câmara vota a cassação do deputado Glauber Braga (PSOL / RJ). O deputado ocupou a cadeira da presidência da Câmara no dia 09.dez por algumas horas — assim como deputados de direita haviam feito em agosto.
Glauber Braga foi suspenso e não cassado pela Câmara. O mesmo aconteceu, incialmente, com a Carla Zambelli, que não teve seu mandato cassado mesmo estando presa na Itália. Mas, enquanto esta newsletter estava sendo editada, Moraes determinou a perda de mandato de Zambelli e anulou votação da Câmara. [Nota de editora: pelo visto não sabemos qual será o status disso no momento em que você ler esta edição]
O presidente da Câmara Hugo Motta usou a polícia da Câmara para retirar o deputado com uma truculência que não foi vista na ocupação anterior da sua cadeira. A cena parece um corolário de algo que um colega sempre repete: "Se a esquerda fizesse o que a direita faz seria crime" (um salve pro colega anônimo que não sei se é inscrito na news).
O movimento do deputado do PSOL pareceu levar em conta que sua cassação já era fato consumado e resolveu sair com uma última performance expondo fraquezas do presidente da Câmara.
Durante o entrevero, a polícia legislativa também retirou à força jornalistas da Câmara dos Deputados, algo muito incomum na casa do poder que deveria ser o mais democrático e acessível.
Após a confusão, no meio da madrugada, Motta conseguiu pautar o PL da Dosimetria que parece muito ser uma manobra para reduzir penas dos que tentaram golpe de estado no processo que culminou no 8 de janeiro. Toda essa discussão de anistia terá muito impacto no processo eleitoral que se avizinha.
TRILILILI
- Honduras | A eleição do país centro-americano, que aconteceu no dia 30.nov, ainda está sendo apurada — e os resultados são tão próximos que com quase 90% dos votos ainda é impossível dizer o candidato que provavelmente vencerá, e esse impasse levou a um descontentamento da população.
- Mundo | A eleição para a secretaria geral das Nações Unidas será em 2026 e a tradição sugere que teremos um candidato da América do Sul. Já existe uma lista de potenciais candidatos, nessa lista a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet é minha favorita.
- Guiné-Bissau | Na quarta-feira, 26.nov, os militares anunciaram que tomaram o poder no país africano e suspenderam as eleições que haviam acontecido no dia 23.
- Benin | País vizinho do Guiné-Bissau sofreu uma tentativa de golpe de estado no dia 07.dez, mas o governo conseguiu conter. O país terá eleições em abril.2026.
- Venezuela | Leiam devagar e saboreando esse parágrafo. O bilionário brasileiro Joesley Batista viajou para Caracas enquanto o espaço aéreo estava fechado pelos EUA para negociar com o presidente Nicolás Maduro sua renúncia.
Depois dessa edição cheia de assuntos diferentes, deixo ainda a recomendação deste texto aqui do Lukasz Olejnik na newsletter TechLetters, sobre o uso de Inteligência Artificial em campanhas eleitorais.
Ainda teremos mais uma edição em 2025, mas já ouço ruídos de Simone ao fundo.
