#16 | Eleição via enquete online no Nepal

Olá, Lucas Lago aqui. Essa seria a edição de tecnologia desse mês de setembro, com uma atualização dos resultados de algumas eleições e um papo sobre alguma traquitana tecnológica usada em eleições.

Porém, os nepaleses realizaram a mais inusitada das eleições e, como me ensinaram recentemente, os fatos se impõem quando você lida com jornalismo.

Conversei com a Yam Kumari Kandel, jornalista que mora em Kathmandu e me ajudou a entender tudo o que rolou por lá. Leiam o trabalho dela na Global Press, especialmente este texto aqui, sobre jovens nepalenses que foram lutar pela Ucrânia.

Sobre os resultados da semana passada, tudo aconteceu como esperado: os noruegueses mantiveram a tradição de votar no partido trabalhista, apesar do aumento das cadeiras da extrema-direita.


Eleição via /poll no Nepal

Informações Gerais
População 29.6 milhões
Eleitores 145 mil usuários do Discord
Sistema de votação Enquete online
Sistema de governo Parlamentarista

Em maio de 2015, o aplicativo de mensagens Discord foi lançado em São Francisco, e se torna popular entre gamers na internet. No mesmo ano, em setembro, o Nepal consegue promulgar uma constituição democrática. Agora, em 2025, o Discord está sendo usado para reorganizar os poderes na jovem democracia nepalense.

No início de setembro aconteceram manifestações populares que se iniciaram com os motivos tradicionais: "contra a corrupção". As manifestações se intensificaram após o governo decidir banir 26 aplicativos de redes sociais e, após casos de violência policial, os conflitos entre manifestantes e policiais se intensificaram com diversas mortes.

Entre 8 e 9 de setembro, as manifestações atingiram seu ponto máximo. Prédios públicos foram incendiados, o exército teve que intervir e o primeiro ministro renunciou. A esposa de um ex-primeiro ministro está em estado grave por conta de queimaduras sofridas quando manifestantes incendiaram sua casa.

A principal característica que a mídia internacional destacou dos protestos é a demografia. Os protestos foram liderados por jovens com menos de 28 anos, e alguns dos que morreram nos protestos estão sendo tratados como mártires.

Nas imagens que circularam na internet durante os protestos era possível ver o uso de bandeiras inspiradas no anime One Piece. O mesmo aconteceu em protestos na Indonésia e no Perú.

Isso reforçou a minha percepção de que esses protestos realmente surgiram entre jovens e a partir de comunidades online – já que símbolos como esses são bastante comuns nesses grupos e One Piece é uma mídia que debate diversos temas políticos com uma profundidade impressionante para uma história que trata de uma pessoa com 'poderes de borracha'.
Peguei a imagem no Twitter, o tweet infelizmente não menciona a autoria da foto. https://x.com/vidsthatgohard/status/1966454893960380675

E só pra pontuar como tudo foi muito "gen Z" nesses protestos. Temos vídeos de jovens no celular impedindo caminhões do exército, jovens desviando de jatos de água desses caminhões usados em protestos e jovens sendo jovens.

Após a queda do primeiro ministro, o exército assumiu o controle das ruas e começou negociações com os manifestantes para decidir quem seria o primeiro ministro interino. E aqui a energia caótica da juventude brilhou novamente.

As decisões no servidor Hami Nepal

O Discord é um aplicativo de mensagens que permite mensagens de texto, áudio e vídeo. Se você já participou de algum evento do Núcleo, provavelmente foi por meio do Discord.

Nesse aplicativo qualquer pessoa pode criar um servidor, e convidar pessoas para integrá-lo. Nesse servidor são criados canais para diferentes assuntos, além das pessoas poderem conversar individualmente usando mensagens diretas. É ótimo pra organizar as conversas da empresa.

A organização Hami Nepal que atua no país desde a constituição, organizou um servidor no Discord e usou esse servidor como um hub para organizar os protestos. O Instagram da organização tem muitos vídeos com dicas sobre como manter os protestos pacíficos e outros detalhes como as exigências dos manifestantes.

Quando o exército consultou os manifestantes para verificarem se havia alguma sugestão de nome para ocupar interinamente o cargo de primeiro-ministro, o servidor do Discord que já contava com mais de 100 mil pessoas foi usado para realizar os debates entre os manifestantes.

Organizando diversas enquetes no servidor eles decidiram que o nome da presidenta da Suprema Corte Sushila Karki, era a escolha deles. O nome dela superou outras opções como:

  • Balen Shah, rapper e atual prefeito da capital Kathmandu;
  • Harka Sampang, atual prefeito de Dharan;
  • Sagar Dhakal, jogador de críquete;
  • Mahabir Pun, pesquisador e ativista que ajudou a levar internet para áreas remotas no Himalaia;
  • Qualquer outro nepalense aleatório, vale o registro que o nepalense aleatório ficou em segundo lugar na enquete.

O acordo entre exército, juventude e políticos que ainda tinham algum poder para colocar a Sushila Karki como primeira-ministra com certeza seguiu ritos inesperados e não deve aderir a constituição. Mas o compromisso de novas eleições para o ano que vem deve ser suficiente para a manutenção dela por esses meses.

Agora é acompanhar para ver se a revolução feita pela juventude no Nepal leva a mudanças reais. Torcer para que o uso do Discord como plataforma seja um melhor presságio que o Twitter foi para a primavera árabe.


Sem surpresas

Na eleição para o Storting norueguês o partido trabalhista conseguiu mais uma vitória, aumentando a tradição secular. Conseguiu 5 assentos a mais que na eleição de 2021 e pouco mais de 28% dos votos.

O partido que se bandeou para a extrema-direita ficou em segundo, derrubando partidos de direita mais tradicional (tanto conservadores como agrarianistas perderam cadeiras).

Os trabalhistas devem formar um governo de minoria, sem se afiliar formalmente com os outros partidos de esquerda do parlamento.

A eleição da Síria está ocorrendo nesta semana (15 a 20 de setembro). Resultados na próxima edição.


Curtas

  • Argentina | Candidatos apoiados pelo presidente Javier Milei sofreram uma pesada derrota nas eleições provinciais. Isso deve ter acendido várias luzes vermelhas no governo.
  • França | Cidades que fazem parte do Tour de France (competição de ciclismo) apresentam redução no voto de extrema-direita, ou pelo menos é o que esse artigo sugere.
  • Índia | O vice-presidente da Índia renunciou por conta de questões de saúde e como lá as eleições para presidente e vice são separadas, houve uma eleição indireta antecipada e venceu o candidato do partido do Narendra Modi.
  • Camarões | No dia 12 de outubro acontecerão as eleições presidenciais do país. O atual presidente Paul Biya, de 92 anos, vai tentar a oitava reeleição.

A edição de hoje, apesar de ter atrapalhado minha ideia de alternância entre edições tecnológicas e edições internacionais foi muito interessante de escrever e pesquisar.

E me deu uma desculpa para falar de One Piece! Se você nunca viu nada sobre essa obra, que está com 1.160 capítulos semanais lançados no mangá e quase a mesma quantidade de episódios do anime, saiba que você está essencialmente perdendo a Odisseia moderna.

Além das batalhas Shonen com poderes sobrenaturais, temos uma obra com críticas: ao autoritarismo dos militares, à busca por armas de destruição em massa por superpotências, à supressão do ensino de história, à perseguição da ciência e ao jornalismo quando esse manipula informações para benefício próprio. Vale o investimento de tempo.

E na torcida por dias melhores no Nepal, vou encerrar com a fala do [spoiler de One Piece] na ilha [spoiler de One Piece]: Eu consigo ouvir os tambores da libertação.


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